sexta-feira, 29 de abril de 2011

SER HONESTO NO BRASIL É INCONSTITUCIONAL

De: José Acaci

Quando um político é eleito
pra defender seu mandato,
logo no primeiro ato
tudo é bonito e perfeito.
Diz que é um homem direito,
se agarra à Constituição
e jura a toda nação
que é um homem honesto,
deixando ali seu protesto
contra a corrupção.
Mas a negociação
já está a passos largos
pelas mudanças de cargos...
E adeus Constituição.
É um fazendo pressão,
e outro querendo propina.
Tudo por trás da cortina
ou por debaixo do pano.
Entra ano e chega ano
e a coisa vira rotina.
Há poucos meses atrás
só não ouviu quem não quis,
que esse nosso país
estava com todo gás.
Arrecadando bem mais
que muitos outros países,
e que as novas diretrizes
que nunca antes se viu,
deixaram nosso Brasil
imune a todas as crises.
Mas crise é só o que avança
aqui na nossa nação:
tem crise na educação,
tem crise na segurança,
na saúde da criança,
nos leitos dos hospitais,
nas estradas federais,
nos transportes e nos portos,
crise nos aeroportos,
e escolas municipais.
Os políticos se escondendo
por trás da imunidade,
e o jogo da impunidade
nosso país ta perdendo,
e quem tem olho ta vendo
a crise na juventude
e o crack, de forma rude,
destruindo nossos lares,
e os nossos parlamentares
sem tomar uma atitude.
Tem crise nos bastidores
desses hospitais lotados.
Brasileiros humilhados,
jogados nos corredores.
E no excesso de assessores
desse político ladrão,
esse mesmo cidadão
que num primeiro momento
fez um belo juramento
ante a Constituição.
Uma nova lei foi criada
pra não deixar eleger
e não botar no poder
quem fizesse coisa errada.
Mas a nossa pátria amada
foi vítima de um novo ato,
que nos mostrou o retrato
dessa turma que garimpa:
nossa lei da ficha limpa
ficou pra outro mandato.
Com tanta politicagem,
tanto roubo, safadeza,
falcatrua, esperteza,
extorsão e malandragem,
só falta vir a mensagem
do Senado Federal,
que nesse tempo atual,
de uma maneira sutil,
ser honesto no Brasil
é inconstitucional.

sexta-feira, 4 de março de 2011

A divisão sexual do trabalho na agricultura familiar na Amazônia: o “não trabalho feminino”


"No trabalho, o sujeito humano desenvolve sua capacidade criadora, orientando-o para novas possibilidades, impulsionando-o para tomada de decisões e escolhas conscientes, orientando-o para busca de novas formas de ser mais emancipadas e autônomas, e que rompam com todas as formas estranhadas do ser social, com enfoque específico à liberdade. Para que este trabalho emancipador e esta ampliação do ser social de fato ocorram, se faz necessário que este sujeito seja protagonista da construção de sua própria história, um ser ativo, participante e que tenha fundamentalmente este reconhecimento em sua subjetividade (Semeghini, 2009). Neste sentido, o reconhecimento do trabalho da mulher e de seu protagonismo vai além da ampliação dos espaços que a ela são destinados na sociedade. Este reconhecimento tem como base o entendimento subjetivo que esta mulher tem de seu papel na sociedade, o quanto esta se valoriza e se reconhece como ser consciente e mobilizador de transformações sociais."
...
"A mulher na contemporaneidade, pela sua inserção em diversos espaços sociais, vem apresentando um papel fundamental na sustentabilidade da propriedade, porém esta ainda parece não ter o reconhecimento de seu trabalho na medida em que as suas atividades produtivas são visualizadas como ―não trabalho‖, uma atividade que não gera renda e recursos para o processo produtivo da agricultura familiar."

Sandra Helena da Silva1
Universidade Federal do Amazonas - UFAM
Sandra Damasceno da Rocha2
Universidade Federal do Amazonas - UFAM

DAQUILO QUE SE É, E DAQUILO QUE SE REPRESENTA


DAQUILO QUE SE É, E DAQUILO QUE SE REPRESENTA

Dentre alguns fatores a se considerar sobre o SER, é que ele é impermanente e mutante.
Na verdade a palavra para melhor definir isso é ESTAR, estamos alguma coisa. Estamos pensando que somos alguma coisa, DAQUILO QUE SE É, e os outros que nos vêem estão pensando algo sobre o que representamos, DAQUILO QUE SE REPRESENTA.
A mente humana por sua limitação não dá conta da realidade na sua totalidade, os outros nos vêem com os olhos e valores que possuem e a cada pessoa diferente, muda também a percepção daquilo que se vê sobre o outro. Nossa aparência física e nosso forma de vestir também molda o que SE É E O QUE SE REPRESENTA. É de se lembrar também que os fatos reais deixam de existir a partir do momento em que acontecem, e passam a virar relatos, boatos, sons e imagens gravadas.
Além disso, a disponibilidade de tempo e dedicação que o ser humano tem para se dedicar a apreender novos saberes (por meio diferentes formas com leitura, música, oralidade, imagem, etc.) também molda a percepção que a cada pessoa tem sobre o mundo. Esse fator de disponibilidade maior para esse ou aquele método de aprendizagem dá maiores capacidades e facilidades em temas diferentes, uns sabem mais de música, outros de informática, outros de cultivo, outros de floresta e outros de leitura. Lembrando que nenhum ser vivo consegue ser perfeito em qualquer uma delas, mesmo com dedicação exclusiva.
Sabendo disso, podemos perceber porque é impossível agradar a todos, pois somos bons, legais, maus, ruins, humildes ou egocêntricos ao mesmo tempo para pessoas diferentes. O que devemos ter em mente é que pessoas diferentes possuem parâmetros diferentes de valoração e julgamento sobre o outro, assim como tem um maior conhecimento sobre algum tema ou forma diferente de aprendizagem. O que interessa é respeitar a diversidade de seres e saberes, pois é ela que nos matem vivos, existentes, impermanentes e mutantes.
Quando temos isso em mente, notamos que para nós estamos sendo o que pensamos ser, e para os outros, somos o que cada um deles sabe e pensa que sabe de nós. Numa relação sempre dialética e mutante. Nesse sentido, a identidade do ser se esvai e se recria constantemente.
Alguns que vivem buscando não ferir ou invadir o espaço do outro, que abrem mão desse ego, pois não se importam com essa imagem gerada, mas buscam ter sua vida dedicada para a doação, para a verdade, a melhoria de vida, de um mundo melhor, mais justo e sustentável, no fundo, no fundo, são as pessoas que estão mais livres e felizes. São a mudança que acreditam e querem para o mundo, esse é o seu sonho e ideologia.
E esses, por pensar assim, são considerados loucos, pois não se preocupam com sua imagem. Voltando ao assunto DO QUE SE É, é bom lembrar que esse eu identitário está moldado pela capacidade do ser em tornar realidade a cada instante aquilo que acredita e pensa ser, então pessoas que procuram ter pensamentos positivos, acabam tendo palavras positivas, suas palavras acabam tornado suas atitudes, hábitos, valores e seu destino. Portanto, somos o que queremos ser.
Mas essa é só a visão limitada de um ser sobre O QUE SE É E O QUE SE REPRESENTA SER.


SOBRE O SABER E AS HABILIDADES
Quando uma pessoa tem maior disponibilidade de apreender uma habilidade desde o berço, pois seus pais ou alguém próximo desenvolveu essa mesma habilidade, é lógico que se gostar e procurar seguir a mesma carreira, essa pessoa terá mais chances de evoluir melhor naquilo que tem disponível o tempo todo, do que outra pessoa que nada disso tem. É o caso de filhos de músicos que são músicos, de filhos de médicos que são médicos.
Enfim, vejamos o caso da música, desde a barriga da mãe o ser ouve música, conceitos do tema, tem os instrumentos mais disponíveis, ouve conceitos do que é afinado e bom, do que não é, tem mais acesso a partituras, recebeu geneticamente do pai e/ou mãe, e/ou avós a maior predisposição para desenvolver partes nervosas e cerebrais ligadas à música. E crescem sendo recebendo motivação para a música, é lógico e óbvio que tem mais chances de ser um grande músico do que aquele que cresce em um ambiente que não tem nada disso.
É lógico e óbvio que existem algumas exceções, as quais estão ligadas a fatores como negação da família e dos pais pelo adolescente, e que por alguma espécie de trauma não quer seguir a mesma carreira dos pais, ou então daqueles que não nascem e crescem nesse ambiente propício, mas que desejam ardentemente, por alguma espécie de admiração, seguir a música. Contudo, nesse último caso a dedicação e o querer vão ser fatores preponderantes para a apreensão desse novo saber.
A ciência, representada por seres que saem das academias universitárias, que também é falha, faz pesquisas para comprovar fatos óbvios como esse, que até para um leigo analfabeto que reflita sobre a vida, pode saber.
Mas essa é só a visão limitada de um ser sobre O QUE SE É E O QUE SE REPRESENTA SER.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

USO DE PENICO COM BEBÊ: EDUCANDO PARA A AUTONOMIA



A educação é um processo contínuo ao longo da vida, ou seja, vai desde a geração até a morte do ser. Em todo tempo da nossa vida surgem fatos novos que temos que apreender e nos adaptar a cada realidade. No começo da vida, o papel de educar é quase sempre dos pais. São eles que ensinam a criança as formas de se comunicar, de se alimentar, de se vestir...

Pais conscientes sabem que devem educar nossos filhos para serem pessoas completas, autônomas e assim possam alcançar a tão sonhada felicidade. Por isso ensinamos nossos filhos a caminhar sozinho e até procurar se sustentar, SENDO RESPONSÁVEL PELA SUA PRÓPRIA EXISTÊNCIA. Cada ser vivo possui diferentes habilidades e maneiras de assimilar saberes, uns mais rapidamente, outros mais lentamente.

Com minha pequena Emília Poema estou no início dessa jornada, e uma interessante experiência que tive foi ver a capacidade de minha bebê que aos 2 meses, quando ela começou a ficar com a cabeça em pé, começou a usar o piniquinho. Muitos amigos só acreditam nessa peripécia quando vêem pessoalmente. Mas saibam, é fato e vou relatar com mais detalhes.

Ensiná-la a usar o penico para sair das fraldas tão cedo não era minha pretensão, isso foi algo que aconteceu meio que naturalmente. Primeiro porque percebi que desde os primeiros dias de nascida, quando a gente ia trocar a fralda dela, ela fazia suas necessidades assim que a gente desobstruía a saída tirando a fralda. As vezes era uma lambança só, merda pra todo lado, na parede e até no papai.

Comecei a perceber que quando ela queria fazer cocô, já dava seus sinais naturais: começava a soltar gases e fazer força, tipo se espremendo mesmo. Geralmente acontecia logo depois de uma mamada, quando há uma maior movimentação dos músculos intestinais e do diafragma. Imagino que isso acontece com todas as crianças, é só os pais ficarem atentos. Aí eu pensei, essa menina vai sair da fralda cedo, então tive a brilhante ideia de colocá-la no penico quando ela começasse a dar os sinais. Não deu em outra. Eu fico segurando ela sentadinha no penico e ela faz suas necessidades sem sujar nenhuma fralda. E pra incentivá-la a continuar eu a elogia sempre que ela usa o penico.

Com isso economizei no número de fraldas para lavar (a gente usa fraldas de pano). Ah, e eu tive outra vantagem, ela começou a chorar menos por causa dos gases que causam dores intestinais nos 3 primeiros meses, pois sem a obstrução da fralda, o bebê consegue soltar seus gases mais facilmente. Agora com 6 meses, a pequena ainda faz de vez em quando cocô na fralda, isso acontece geralmente quando a gente demora para prestar atenção em seus sinais, ou quando ela está com o intestino muito solto e não consegue esperar. Mas isso é raro. Às vezes ela chora quando a gente não leva ela pro penico.

Todo esse processo fica mais fácil quando estamos em casa, no ambiente e na rotina que ela está acostumada. Quando passeamos na casa de amigos que não tem penico a gente coloca ela no vaso e ela faz numa boa. Teve uma vez que estávamos visitando uma fazenda e ela deu sinal de que tava com muita vontade, ao 3 meses, e segurei ela acocada pra fazer cocô no mato mesmo, porque não dava tempo de ir ao banheiro.

É importante destacar que a educação tem um pouco de repetição e de condicionamento para acontecer. Começar a ensinar o bebê desde cedo a usar o penico tem outra vantagem que é pular uma etapa na aprendizagem da criança, pois ao invés de a gente associar a mente do bebê a fazer suas necessidades na fralda e depois ter o trabalho de ensinar pra ela que isso não é o certo e que ela tem que usar penico, a gente pula a fase da fralda e já usa o penico. Assim, ainda ajudamos o meio ambiente, com menos fraldas descartáveis ou lavadas.

Como historiadora e profunda estudiosa de práticas culturais de povos indígenas e tradicionais, e sobre os malefícios que o processo de industrialização que a nossa sociedade nos trouxe, cheguei a conclusão que muitas mães indígenas e de povos tradicionais não usam fraldas com nós por falta de acesso, e se adaptam a isso. Hoje, para escrever esse artigo, pesquisei sobre o tema e encontrei o seguinte depoimento:

"Entendo que muitas pessoas fiquem chocadas. Depois de décadas de escolhas convenientes para os pais e ruins para os filhos, parar de usar fralda é uma grande mudança cultural, um retrocesso.”
...
Existe até o movimento Diaper-Free que “é inspirado em mães de países da África e da Ásia que, sem outra opção, criavam as crianças sem fralda. Autora de dois dos três únicos livros sobre comunicação da eliminação nos Estados Unidos (" Infant Potty Training: A Gentle and Primeval Method Adapted to Modern Living" e "Infant Potty Basics: With or Without Diapers, the Natural Way"), Laurie Boucke é uma das pioneiras entre as mães americanas. Ela aprendeu o método com uma amiga indiana no início dos anos 80. "Eu usei o método convencional com meus dois filhos mais velhos, mas tive a oportunidade de fazer diferente com o caçula, que hoje tem 25 anos. Ele tinha três meses quando aprendi o infant potty training (treinamento de penico para bebê, nome que Laurie deu em seus livros para a comunicação da eliminação) e, depois disso, raramente precisou de fralda. Todo o processo foi ótimo e ele não teve qualquer problema psicológico. Mas, infelizmente, muitas mães na Ásia e em algumas partes da África estão começando a usar fraldas descartáveis, que agora são vendidas em qualquer esquina. Elas querem ser modernas, ocidentais", conta Laurie, que citou mães e bebês de tribos indígenas brasileiras em seu primeiro livro.”

Então fica aí a dica, basta paciência, e acho que essa deve ser a maior qualidade todo pai e mãe que ama seus filhos.

Copio aí alguns parágrafos do site que também defende o tema:

“Ignorar os sinais nos primeiros meses de vida pode significar mais trabalho depois, lá pelos dois anos, quando chega a hora definitiva de ensinar a usar o penico. Mas, para que as fraldas virem artigos dispensáveis na vida de um bebê recém-nascido, não basta prestar atenção aos sinais. A mãe precisa conhecer os horários do filho, estabelecer uma comunicação através de sons como "psss", seguir a intuição, ter o penico sempre à mão e jamais perder a paciência.”

“Uma pesquisa da Academia Americana de Pediatria – a AAP - mostrou que a idade de deixar a fralda mudou nos últimos 20 anos. Até os anos 80 do século passado, as crianças aprendiam a usar o penico antes dos dois anos. Agora, cerca de 60% ainda usam fralda aos três. Culpa da descartável, que vai até o número 6 (para crianças até 15kg), e dos livros de psicologia infantil, que defendem a idéia de que cada criança tem seu tempo. Os que seguem a linha freudiana alertam: pais que competem para tirar a fralda dos filhos mais cedo podem transformá-los em adultos desorganizados e destrutivos e os que punem os filhos durante o processo criam adultos ditadores e fechados.”

Espalhem a experiência para seus amigos.


Kelly Cristina


Obs: Escrevei esse artigo a pedidos de amigas, que sugeriram um livro, mas acho que um livro é muito para falar de um tema tão curto.
Espero ter ajudado.


Fonte dos parágrafos copiados:
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:Wyz8ptj_pHgJ:manoeldiasbrazil.spaces.live.com/blog/cns!3657E47F95D68560!286.entry+beb%C3%AAs+ind%C3%ADgenas+fralda&cd=3&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br

Curiosidades sobre os bebês na Antiguidade:
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:snJ4RXJhqjoJ:babydez.com.br/%3Fcat%3D30+beb%C3%AAs+ind%C3%ADgenas+fralda&cd=16&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Educação e Cultura Alimentar


Educação e Cultura Alimentar
Na PRÉ–HISTÓRIA, quando o homem vivia de forma nômade, ele era essencialmente um caçador e coletava também algumas frutas e raízes para se alimentar. Há cerca de 500 mil anos, o homem começou a usar o fogo, o que mudou completamente a alimentação e os comportamentos sociais a ela relacionados. Quando o homem torna-se sedentário, (fixa-se em locais) começa a agricultura, a produção de alimentos e a domesticação de animais. Dá-se então o início da culinária (IDADE ANTIGA). Surge o pão (egípcios), o vinho, o mel, a cerveja. Na IDADE MODERNA (século XV até a Revolução Francesa, em 1789) houve grandes descobrimentos, Lavoisieur e Pasteur (evolução científica), transporte de diferentes alimentos para vários países, como o café que foi trazido do Oriente para a Europa e aparecem os Grandes chefs – La Verenne e Vatel. Na IDADE CONTEMPORÂNEA (da Rev. Francesa até os dias atuais) surgem os conservantes e outros aditivos alimentares, são observados os efeitos da industrialização sobre a população e o meio ambiente, a alteração nos hábitos alimentares (Fast food). Percebem-se mudanças significativas no modo de vida, na forma de se alimentar e nos próprios alimentos durante os tempos. Alere em latim significa “nutrir”, o alimento é, portanto, o que nutre, o que traz ao homem os elementos que o dispêndio da vida lhe fez perder. “Tudo que é capaz de reparar a perda das partes sólidas ou líquidas de nosso corpo merece o nome de alimento”, nos diz um dicionário do século XVII ”. Mas para que um alimento seja reconhecido como tal, ou seja, capaz de manter a vida, ele não deve somente possuir qualidades nutricionais – conter certa quantidade de nutrientes glicídios, de lipídios, proteínas – é preciso ainda que ele seja conhecido e/ou aceito como tal pelo comedor e pelo grupo social ao qual pertence. Conforme Chemin (2007), A importância da alimentação não pode considerar exclusivamente o aspecto nutricional, sendo necessário entre outros fatores considerar também a cultura alimentar. A escolha dos alimentos, sua preparação e consumo estão relacionados com a identidade cultural – são fatores desenvolvidos ao longo do tempo, que distinguem um grupo social de outro e que estão intimamente relacionados com a história, o ambiente e as exigências específicas impostas ao grupo social pela vida no dia-a-dia. As tradições alimentares peculiares de cada grupo têm importância no seu auto-reconhecimento e auto-estima, expressando ou afirmando determinado valor. Pensar em hábitos e padrões alimentares brasileiros é considerar os fatores de ordem geográfica (clima tropical e temperado – diversidade de alimentos) e sociológica (influências africanas, européias e indígenas). Um alimento deve possuir quatro qualidades fundamentais: nutricionais, organolépticas, higiênicas e simbólicas. Deve ser capaz de fornecer ao organismo, nas condições de equilíbrio mais ou menos satisfatórias: nutrientes energéticos (carboidratos, lipídios), nutrientes energéticos estruturais (proteínas) elementos minerais (macro e oligoelementos), vitaminas, água e ser isento de toxicidade. As características físicas dos produtos alimentares provocam sensações psicofisiológicas. Estas sensações exteroceptivas em primeiro lugar: visuais, olfativas, gustativas, táteis, térmicas e auditivas e proprioceptiva, como a maior ou menor resistência do alimento, ao nível dos músculos da mandíbula ou sua presença estomacal. Finalmente os alimentos provocam sensações gerais secundárias: sentimento tranqüilizante de barriga cheia, efeitos estimulantes da carne. Mas para ser um alimento, além destas três categorias de qualidades, um produto natural deve poder ser o objeto de projeções de significado por parte do comedor. “O homem é provavelmente um consumidor de símbolos quanto de nutrimentos ”. Além de mostrar sua cultura, quando prepara os alimentos, segundo Catherine Perlés (1979, p. 4, In: MACIEL, 2001) o homem propõe uma distinção entre o ato alimentar (no qual o homem não se distinguiria das outras espécies animais em relação à nutrição) e o ato culinário, próprio à espécie humana (o homem é o único a cozinhar e combinar ingredientes). O encadeamento dos atos alimentares: aquisição, transformação e consumo do alimento, é efetivamente um processo ao mesmo tempo partilhado com todos os animais e especificamente humano. Assim, a comensalidade, é o momento de reforçar a coesão do grupo, pois ao partilhar a comida partilham sensações, tornando-se uma experiência sensorial compartilhada (MACIEL, 2001). A população de baixa renda enfrenta falta de recursos financeiros para ter acesso a certos tipos de alimentos. Mas não é seu suposto desconhecimento que impede o consumo de produtos adequados e de baixo custo. De modo geral, há um vasto rol de informações circulando entre as famílias pobres. Mas elas enfrentam dificuldade em substituir hábitos solidamente implantados ou para adequá-los ao saber científico, pois esses hábitos fazem parte de um sistema, onde cada item ocupa um lugar que faz “sentido”, pois está integrado em um corpo de saberes. Torna-se difícil encaixar novas orientações porque as regras alimentares estão incorporadas na interioridade dos sujeitos e encapsuladas pelo aspecto afetivo e pelo prazer que proporcionam. O grande dilema de todos os profissionais da área de saúde que trabalham com essas questões é que eles se defrontam com a realidade cultural da população pobre, diversa daquela produzida pelo conhecimento científico, de que esses agentes são portadores. No entanto, a convivência entre códigos culturais conflitantes não ocorre apenas entre a população pobre, queixa comum dos profissionais da área. Está presente com toda força e intensidade no seio das camadas médias, que desfrutam de maior acesso ao conhecimento científico, em função de escolaridade mais elevada e de condições financeiras para se alimentarem de acordo com padrões considerados adequados.
Educação alimentar e nutricional
É “Um conjunto de estratégias sistematizadas para impulsionar a cultura e a valorização da alimentação, concebidas no reconhecimento da necessidade de respeitar, mas também de modificar, crenças, valores, atitudes, representações, práticas e relações sociais que se estabelecem em torno da alimentação, visando o acesso econômico e social de todos os cidadãos a uma alimentação quantitativa e qualitativamente adequada, que atenda aos objetivos de saúde, prazer e convívio social.” (Boog, 2004). A educação é a troca de informações e conhecimentos entre o educador e o educando, utilizando uma linguagem entendível, dentro de um ambiente que conduz ao aprendizado. A educação alimentar, se insere na educação em saúde, a qual tem por objetivo a formação de atitudes e práticas coerentes com a promoção e prevenção da saúde: andar a pé, não fumar, não ingerir drogas e álcool, praticar esportes e fazer exercícios ao ar livre, ter alimentação variada e adequada ao seu tipo físico, são comportamentos incentivados pela educação em saúde. A educação alimentar, por sua vez incentiva o consumo de alimentos simples, naturais, frutas, hortaliças e recomenda evitar doces, supérfluos, gorduras e alimentos muito condimentados. Para pensar em Educação Alimentar e Nutricional, precisamos entender também que ela deve ser encarada como um trabalho sistemático, contínuo, multidisciplinar e de natureza complementar a familiar que não se exclui nem se dispensam mutuamente. Neste aspecto, a escola tem também um papel fundamental na promoção da saúde, pois propicia um ambiente que contempla a aprendizagem e a relação com a comunidade.

Por: Sheila Pereira Rangel

Nutricionista, professora do Curso de Formação de Gestores para Cozinhas Comunitárias REDESAN 2009, organização e adaptação do texto.

Como escolher a informação?


Como escolher a informação? Em quem acreditar?


Um artigo do médico americano, Tim O’Shea, chama a atenção pela visão original que apresenta e que tem como referência o livro “Trust us, we’re experts”. Neste artigo, ele faz uma revisão sobre como a mídia pode estar determinando a forma que enxergamos o mundo. O assunto é de notável importância, principalmente dentro da ótica americana, mas com certeza, também nos diz respeito.


Pode parecer incrível, mas o hábito de fumar entre as mulheres americanas foi estimulado por médicos entre os anos 30 e 40. Artigos das revistas “Time” e “Life” daquela época ilustravam este apoio. Mais incrível: uma entidade de apoio à informação médica e científica referendou o uso de chumbo na gasolina. Mais de trinta milhões de toneladas de chumbo foram lançadas na atmosfera com o apoio técnico de quem, em tese, deveria defender a saúde do homem e do meio ambiente. Há um instituto americano que afirma que não existe efeito estufa, e que os EEUU não devem mesmo assinar o tratado de Kioto, pois tudo não passa de um “hoax” (embuste). Talvez mais da metade de todas as notícias do “Wall Street Post” não passe de matéria paga ou informe publicitário disfarçado de notícia. (Aliás, se a gente prestar atenção nas nossas revistas semanais mais em evidência, não parece ser 100%?)


Estes são alguns poucos exemplos de como a informação tem sido manipulada desde o século XX. O dr O’Shea chega a firmar que não existe um único pensamento ou comportamento que não esteja além do limite habilitado por quem tem o domínio do sistema. Mesmo pessoas “de vanguarda” que acham que fazem coisas que vão contra o “status quo”, ainda assim estão dentro dos limites do que é esperado.

Esta mágica de dominação tem o auxilio do inventor do “press realese”, Edward Bernays, o pai do marketing moderno. O grande lance deste “fabuloso” homem foi usar os princípios de conhecimento psicológico de seu famoso tio (Sigmund Freud) de modo reverso: ao invés de descobrir os conteúdos inconscientes e libertar o homem de seus sofrimentos recônditos, a psicologia do marketing é eficiente por aprisionar o indivíduo, escondendo a realidade e instigando as pessoas a crerem em ideais, conceitos e sentimentos que os habilita a serem consumidores. Mais do que isto: constrói um sistema de crenças corrompido no sentido de dar a certeza que o que sua sociedade lhe oferece é o melhor. Este processo tem seu ápice quando cada um de nós não consegue perceber que o processo está em pleno andamento (“o bom marketing é aquele que não é visível”). Na opinião de O’Shea, a garantia deste sistema jamais fracassar está baseada na maneira atual de educar e fornecer um entretenimento para as crianças. A estratégia em prática os deixará incapazes de vislumbrar esta manipulação. (Nos EEUU, os jovens não sabem ler romances clássicos, e tem os escores mínimos de aprovação rebaixados progressivamente – ninguém, roda, além disto elas são maciçamente medicadas com entorpecentes tais como ritalina e antidepressivos, e assim formarão uma população incapaz de questionar o mundo).


Bernays merece o título de gênio, não é à toa. Ele tinha seus princípios. No seu ponto de vista a democracia é muito boa para todos, e para manter todos dentro de uma sociedade democrática é melhor que seus pensamentos fiquem dentro de certos limites. Ele afirmava que: “a manipulação científica da opinião pública é necessária para superar o caos e o conflito em uma sociedade democrática...”


Ele montou uma infalível estratégia de validar os empreendimentos de grandes transnacionais (Monsanto, GM, Eli Lilly, Goodyear, Procter & Gamble, entre outras) usando o artifício do “Terceiro Independente”, criando um número incrível de fundações e institutos de suporte a estas empresas. São instituições de nomes pomposos e que soam convincentemente ao público em geral. Um exemplo, a Global Climate Coalition (ver site na Internet) que afirma que o efeito estufa é uma falácia, desta forma ampara a GM a não parar de produzir carros, e melhor, desobriga a empresa interessada em afirmar isto, já que ficaria óbvia demais a intenção da fabrica. Um instituto de pesquisa médica (Sloan-Kettering Memorial) chegou a afirmar por anos que o corpo humano era habilitado a se desintoxicar do chumbo, o que permitiu o uso deste metal venenoso no combustível até pouco tempo atrás.

A corrupção cognitiva vai mais além. Um autor chamado Peter Hubner sublinhou a redefinição de ciência. Até então ciência já seria um marco intransponível de qualidade, tal como um dogma religioso. Em 93, Huber cria o termo “junk science”. E assim a ciência, além do respeito sacerdotal inquisitivo que já dispunha, só merecerá boa reputação se der suporte ao desenvolvimento tecnológico e industrial. A pesquisa científica que corre o risco de nos mostrar que os caminhos antigos são os mais saudáveis será chamada de inútil (leia-se: ecologia e ciências afins). Neste sentido progresso social será medido, por exemplo, pela sofisticação dos telefones celulares e interferência técnica na produção de agros-negócios. Se nesta sociedade a maioria da população for miserável isto não terá a mínima importância. Bernays pregava que era fundamental tudo parecer científico para o povo mal informado. Ciência valida qualquer proposta de consumo. Assim a pesquisa científica passa a ser um “commodity” no mundo capitalista, e que a partir de então passa a validar premissas e não testá-las, como seria de se esperar frente aos mais elementares princípios do método científico, (podemos chamar de “capitalismo científico” cujos alvos principais são os medicamentos, os alimentos e tudo que pareça essencial no consumo de massas, afinal nada melhor do que adquirir o que é mais moderno em tecnologia, não?).


O texto de O’Shea mostra também o cuidado que merecem as palavras que vão para a audição da população (temas como transgênicos, câncer, vacinas, medicamentos, soja, etc). Relata também que, se necessário for, nada melhor do que implantar a confusão de informações. Tudo é válido para que verdades desagradáveis nunca fiquem plenamente visíveis.


Pelo jeito que a coisa anda, se Galileu e Copérnico tivessem que nos dizer que a Terra não é o centro do universo, seriam os “formadores de opinião” pública (talvez professores universitários ou a intelectualidade burguesa) que os mandaria para o esquecimento ou o inferno da ridicularização.


Em quem confiar? Não será fácil responder a esta pergunta. Mas não podemos nos esquecer que por mais de 140 mil anos vivemos sem os benefícios da sociedade de consumo. Pelo menos uma coisa a gente tem certeza: ela não é essencial. Se através desta sociedade se construísse um mundo sem fome e com menos doenças e sem guerras, talvez valesse a pena defender esta sociedade. Se isto não acontece, apesar de não faltar dinheiro, nem comida para toda a população da Terra, no mínimo deveríamos começar a fazer perguntas, mesmo que as respostas que vierem não agradem nossas crenças e os nossos ouvidos...

(José Carlos Brasil Peixoto, 08/12/04)

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

BANDA COVER NO BRASIL - O ROCK ALIENANTE




É de conhecimento que o rock surgiu nas culturas anglo-saxãs (Inglaterra, EUA, ...) como estilo musical de protesto aos costumes e sistema vigentes. Dentro desse contexto não há que se falar em alienação cultural.
E para falar nesse termo (alienação cultural), convém destacar que ele se remete ao sentido de “alien” mesmo, aquilo que é de fora, exógeno, que está fora da realidade e contexto cultural. E a esse papel servem de exemplo claro os grupos covers de bandas internacionais de grande sucesso e público de massa.
Destaca-se que a música, como expressão cultural dos seres humanos, muda suas manifestações de acordo com cada época e contexto sócio-cultural. De forma que quando um povo deixa de produzir e reproduzir aquilo que lhe é próprio para copiar e reproduzir algo exógeno, passa pelo processo de alienação cultural, também denominada de aculturação.
No caso do Brasil, isso se agrava quando a cópia é de músicas com letras em inglês num país em que a população mal sabe se manifestar e entender claramente a própria língua. Infelizmente vejo muitas crianças e jovens balbuciando letras de músicas que não tem a mínima noção do que quer dizer.
A música é uma das manifestações artísticas do ser humano, e, como tal, sua tarefa primordial deve ser a de participar consciente e ativamente para fazer os ouvintes refletirem sobre a realidade que nos envolve. No entanto, o músico como artista só pode fazer isso quando conhece o contexto social e cultural em que vive, quando encarna em suas músicas o sentido e os dramas da vida.
Como exemplo desses músicos brasileiros podemos citar João do Vale, Luiz Gonzaga, Alceu Valença, Cordel do Fogo Encantado e muitos outros músicos que seguiram ou estão seguindo a via-sacra da produção autoral e que não abrem mão da qualidade e da singularidade de seus trabalhos. Os músicos do rock nacional também tem bons exemplos, pois souberam pegar a ideia da rebeldia e da musicalidade falando da nossa realidade, sem perder a musicalidade Brasileira, como é o caso de Cazuza, Renato Russo, Cássia Eller, Mutantes, Secos e Molhados, Novos Baianos, dentre outros.
Esse tipo de produção musical, ou seja, a independente, é difícil sim, ela requer sacrifícios físicos, psicológicos e financeiros. Mas no final a compensação é boa, pois é o que fica registrado na memória dos que ouviram e é o que fica gravado pra história como manifestação cultural de um indivíduo criativo.
Já os indivíduos plagiadores, os de bandas covers (como The Doors, Beatles, e outros) que tocam músicas de bandas de grande sucesso, principalmente de bandas escolhidas pela mídia e preferidas pela grande massa, podem até colher rapidamente os frutos de seu trabalho, pois para angariar aplausos e admirações de tietes e de seu público alienado, eles trilham o caminho mais fácil e acabam por fomentar a alienação de nosso povo que já sofre muito com isso desde tempos remotos da colonização.
É importante lembrar que músicos que tem música própria acabam tocando cover porque o público só quer saber de rock clássico mesmo, mas lembremos que esse é o caminho curto, que tem seus limites, já que a banda cover não tem possibilidade de crescer no mundo musical, pois seu campo de atuação é apenas a cópia, e cópia por cópia, se for pra tocar igualzinho, então aperta o play, ou então que toquem músicas de sucesso que falem nossa língua, de nossa cultura, de nossa realidade.
Enfim, gosto e admiro muito mais de bandas que tocam suas músicas!!! Por que "copiar é fácil, criar é que é difícil".
Sei que isso é pesado para alguns, e sei também que não sou a dona da verdade, mas é isso o que eu acho depois de estudar tanto sobre história, cultura, sociedade e arte.

Fonte de inspiração:
A PRODUÇÃO INDEPENDENTE NO NORTE DE MINAS É UMA DAS MAIS TALENTOSAS DO BRASIL.
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:hifOZN2hM1AJ:www.overmundo.com.br/overblog/independencia-e-musica+aliena%C3%A7%C3%A3o+cultural+de+bandas+covers+no+brasil&cd=10&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br&source=www.google.com.br