segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Educação e Cultura Alimentar


Educação e Cultura Alimentar
Na PRÉ–HISTÓRIA, quando o homem vivia de forma nômade, ele era essencialmente um caçador e coletava também algumas frutas e raízes para se alimentar. Há cerca de 500 mil anos, o homem começou a usar o fogo, o que mudou completamente a alimentação e os comportamentos sociais a ela relacionados. Quando o homem torna-se sedentário, (fixa-se em locais) começa a agricultura, a produção de alimentos e a domesticação de animais. Dá-se então o início da culinária (IDADE ANTIGA). Surge o pão (egípcios), o vinho, o mel, a cerveja. Na IDADE MODERNA (século XV até a Revolução Francesa, em 1789) houve grandes descobrimentos, Lavoisieur e Pasteur (evolução científica), transporte de diferentes alimentos para vários países, como o café que foi trazido do Oriente para a Europa e aparecem os Grandes chefs – La Verenne e Vatel. Na IDADE CONTEMPORÂNEA (da Rev. Francesa até os dias atuais) surgem os conservantes e outros aditivos alimentares, são observados os efeitos da industrialização sobre a população e o meio ambiente, a alteração nos hábitos alimentares (Fast food). Percebem-se mudanças significativas no modo de vida, na forma de se alimentar e nos próprios alimentos durante os tempos. Alere em latim significa “nutrir”, o alimento é, portanto, o que nutre, o que traz ao homem os elementos que o dispêndio da vida lhe fez perder. “Tudo que é capaz de reparar a perda das partes sólidas ou líquidas de nosso corpo merece o nome de alimento”, nos diz um dicionário do século XVII ”. Mas para que um alimento seja reconhecido como tal, ou seja, capaz de manter a vida, ele não deve somente possuir qualidades nutricionais – conter certa quantidade de nutrientes glicídios, de lipídios, proteínas – é preciso ainda que ele seja conhecido e/ou aceito como tal pelo comedor e pelo grupo social ao qual pertence. Conforme Chemin (2007), A importância da alimentação não pode considerar exclusivamente o aspecto nutricional, sendo necessário entre outros fatores considerar também a cultura alimentar. A escolha dos alimentos, sua preparação e consumo estão relacionados com a identidade cultural – são fatores desenvolvidos ao longo do tempo, que distinguem um grupo social de outro e que estão intimamente relacionados com a história, o ambiente e as exigências específicas impostas ao grupo social pela vida no dia-a-dia. As tradições alimentares peculiares de cada grupo têm importância no seu auto-reconhecimento e auto-estima, expressando ou afirmando determinado valor. Pensar em hábitos e padrões alimentares brasileiros é considerar os fatores de ordem geográfica (clima tropical e temperado – diversidade de alimentos) e sociológica (influências africanas, européias e indígenas). Um alimento deve possuir quatro qualidades fundamentais: nutricionais, organolépticas, higiênicas e simbólicas. Deve ser capaz de fornecer ao organismo, nas condições de equilíbrio mais ou menos satisfatórias: nutrientes energéticos (carboidratos, lipídios), nutrientes energéticos estruturais (proteínas) elementos minerais (macro e oligoelementos), vitaminas, água e ser isento de toxicidade. As características físicas dos produtos alimentares provocam sensações psicofisiológicas. Estas sensações exteroceptivas em primeiro lugar: visuais, olfativas, gustativas, táteis, térmicas e auditivas e proprioceptiva, como a maior ou menor resistência do alimento, ao nível dos músculos da mandíbula ou sua presença estomacal. Finalmente os alimentos provocam sensações gerais secundárias: sentimento tranqüilizante de barriga cheia, efeitos estimulantes da carne. Mas para ser um alimento, além destas três categorias de qualidades, um produto natural deve poder ser o objeto de projeções de significado por parte do comedor. “O homem é provavelmente um consumidor de símbolos quanto de nutrimentos ”. Além de mostrar sua cultura, quando prepara os alimentos, segundo Catherine Perlés (1979, p. 4, In: MACIEL, 2001) o homem propõe uma distinção entre o ato alimentar (no qual o homem não se distinguiria das outras espécies animais em relação à nutrição) e o ato culinário, próprio à espécie humana (o homem é o único a cozinhar e combinar ingredientes). O encadeamento dos atos alimentares: aquisição, transformação e consumo do alimento, é efetivamente um processo ao mesmo tempo partilhado com todos os animais e especificamente humano. Assim, a comensalidade, é o momento de reforçar a coesão do grupo, pois ao partilhar a comida partilham sensações, tornando-se uma experiência sensorial compartilhada (MACIEL, 2001). A população de baixa renda enfrenta falta de recursos financeiros para ter acesso a certos tipos de alimentos. Mas não é seu suposto desconhecimento que impede o consumo de produtos adequados e de baixo custo. De modo geral, há um vasto rol de informações circulando entre as famílias pobres. Mas elas enfrentam dificuldade em substituir hábitos solidamente implantados ou para adequá-los ao saber científico, pois esses hábitos fazem parte de um sistema, onde cada item ocupa um lugar que faz “sentido”, pois está integrado em um corpo de saberes. Torna-se difícil encaixar novas orientações porque as regras alimentares estão incorporadas na interioridade dos sujeitos e encapsuladas pelo aspecto afetivo e pelo prazer que proporcionam. O grande dilema de todos os profissionais da área de saúde que trabalham com essas questões é que eles se defrontam com a realidade cultural da população pobre, diversa daquela produzida pelo conhecimento científico, de que esses agentes são portadores. No entanto, a convivência entre códigos culturais conflitantes não ocorre apenas entre a população pobre, queixa comum dos profissionais da área. Está presente com toda força e intensidade no seio das camadas médias, que desfrutam de maior acesso ao conhecimento científico, em função de escolaridade mais elevada e de condições financeiras para se alimentarem de acordo com padrões considerados adequados.
Educação alimentar e nutricional
É “Um conjunto de estratégias sistematizadas para impulsionar a cultura e a valorização da alimentação, concebidas no reconhecimento da necessidade de respeitar, mas também de modificar, crenças, valores, atitudes, representações, práticas e relações sociais que se estabelecem em torno da alimentação, visando o acesso econômico e social de todos os cidadãos a uma alimentação quantitativa e qualitativamente adequada, que atenda aos objetivos de saúde, prazer e convívio social.” (Boog, 2004). A educação é a troca de informações e conhecimentos entre o educador e o educando, utilizando uma linguagem entendível, dentro de um ambiente que conduz ao aprendizado. A educação alimentar, se insere na educação em saúde, a qual tem por objetivo a formação de atitudes e práticas coerentes com a promoção e prevenção da saúde: andar a pé, não fumar, não ingerir drogas e álcool, praticar esportes e fazer exercícios ao ar livre, ter alimentação variada e adequada ao seu tipo físico, são comportamentos incentivados pela educação em saúde. A educação alimentar, por sua vez incentiva o consumo de alimentos simples, naturais, frutas, hortaliças e recomenda evitar doces, supérfluos, gorduras e alimentos muito condimentados. Para pensar em Educação Alimentar e Nutricional, precisamos entender também que ela deve ser encarada como um trabalho sistemático, contínuo, multidisciplinar e de natureza complementar a familiar que não se exclui nem se dispensam mutuamente. Neste aspecto, a escola tem também um papel fundamental na promoção da saúde, pois propicia um ambiente que contempla a aprendizagem e a relação com a comunidade.

Por: Sheila Pereira Rangel

Nutricionista, professora do Curso de Formação de Gestores para Cozinhas Comunitárias REDESAN 2009, organização e adaptação do texto.

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