segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

OSCAR NIEMEYER CAI DO PEDESTAL

OSCAR NIEMEYER CAI DO PEDESTAL

Em 1955, o engenheiro-arquiteto Oscar Niemeyer, aliados dos comunistas, assumiu a chefia do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da NOVACAP, empresa encarregada da construção de Brasília. Em 1956 foi encarregado de organizar o concurso para a escolha do Plano-piloto de Brasília, participando também da comissão julgadora. Ou seja, ele foi encarregado de selecionar o projeto melhor para a nova capital, então é corresponsável pelo modelo adotado e elaborado juntamente por Lúcio Costa - Arquiteto e urbanista, de posição política contrário a de Oscar.

“As convicções políticas diferentes nunca impossibilitaram a parceria com Oscar Niemeyer. A militância comunista do amigo, era, segundo Lucio Costa, um dado de sua bem-sucedida trajetória: "Isso aumentava as encomendas. Nossa burguesia adora ter sua cobertura projetada por um comunista".”

Apesar de assumir identidade comunista, sua obra está longe de ser comunista, pois separa por bairros e modelos de apartamentos para pobres, classe média e classe alta. Veja os apartamentos das quadras 200, 400 e 300. Lembrando que grande parte da mão de obra que limpa e cuida dessa cidade são moradores das cidades satélites, os quais dificilmente conseguem comprar sequer um apartamento da 400.

Oscar também privou em sua obra que toda a população de pobres e ricos, de maneira igual, tivesse acesso livre às margens do lago Paranoá, com uma orla livre para o lazer de todos, com quiosques, de forma que hoje fosse possível construir às suas margens ciclovias. Essa é a região onde mora os mais ricos do país. Por trabalhar para um governo capitalista, sua obra mostra seu caráter excludente e que mais do que dobrou a dívida externa do Brasil:

“Para o economista, professor da Universidade Católica de Brasília Adolfo Sachsida, a mudança da capital para o centro do país foi pouco discutida e deu um salto na dívida externa brasileira. "É lógico que Brasília trouxe desenvolvimento e muito dinheiro, mas gerou um superavit comercial insuficiente para sanar a dívida. Juscelino Kubitschek chegou a romper com o FBI". A dívida externa aumentou em US$ 1,5 bilhão, chegando a US$ 3,8 bilhões no fim do governo JK. Enquanto isso, a inflação atingiu níveis de 83%.
Além disso, Adolfo observa que, até hoje, Brasília não é auto-sustentável. "O dinheiro destinado à Saúde, Segurança e Educação vem do governo federal, isto é, são os outros estados que sustentam Brasília há 50 anos. Para quem mora aqui, é ótimo! Mas e para o restante do país? O modelo de Brasília é de uma cidade isolada, distante da realidade brasileira. ”
Hoje em Brasília se encontra o maior número de pessoas que acham que fazem política para diminuir as desigualdades sociais do país. Longe da realidade local, sentada em seus gabinetes, acham que fazem o melhor para o país, e esquecem de ir na ponta, administrar de lá, ouvir a voz a entender a realidade de cada localidade, não sabem se a população quer e precisa de fato uma ponte ou uma escola, e no modelo exógeno continuam empurrando “goela-baixo” suas políticas para a população. Esses parasitas de agentes políticos e servidores públicos se prendem a excesso de burocracias desnecessárias que só servem para criar mais empregos de parasitas, que pouco fazem para ganhar o que ganham.
O modelo da esplanada, com amplo espaço entre os prédios foi proposital para um projeto que visasse excluir as manifestações populares de pequeno vulto. Apenas grandes e onerosas marchas sociais é que conseguem algum efeito político.
Foi o mesmo modelo europeu adotado na reforma de Paris pelo barão de Haussmann: "a reforma teria sido uma demonstração desse autoritarismo, uma expressão de um governo imperial ditatorial. Outras críticas apontam o objetivo de cercear e controlar as manifestações populares. Assim, a ampliação e o alargamento das avenidas facilitava a atuação da repressão policial. Além disso, todo o embelezamento da cidade, os parques, os novos edifícios e monumentos atendiam muito mais a burguesia do que o resto da população. Segundo essa crítica, o centro urbano de Paris foi transformado num espaço burguês e a população pobre que antes vivia ali foi alijada para a periferia."
Esse é o modelo concentrador e centralizador de poder, que tanto comunistas, quanto capitalistas pecam.
Além da insustentabilidade social e econômica, Brasília é insustentável ambientalmente. O esgoto continua poluindo o lago Paranoá diariamente, apesar do tratamento da CAESB. Aliás, foi após tomar banho nesse lago, ali na UnB, que peguei a pior infecção urinária da minha vida. Meu xixi era caudaloso e fedia a ovo podre.

Sua obra de caráter faraônico, com exploração da mão-de-obra, não respeitou o bioma local, numa região tropical, de clima quente e seco no inverno, quente e chuvoso no verão. Os prédios e as obras construídas com tecnologia externa, feitos de concreto e vidro dependem diariamente de ar condicionado, que demandam de mais energia elétrica para construir novas “Belo Monte”. Mesmo com gastos altíssimos, sua obra apresenta falhas arquitetônicas. Várias escadas dos Ministérios apresentam rachaduras nas paredes, a casa do estudante da UnB está interditada para demolição, pois começou a cair pedaços antes da hora, entre outras.

No Brasil existem tecnologias milenares de construção que não dependem de ar condicionado para manter um clima agradável e que duram mais de três séculos. Há na Cidade de Goiás Velho casas que tem mais de 150 anos e foram feitas de adobe. No quesito sustentabilidade sem causar impacto ambiental, tornando o solo infértil e compactado, é bom lembrar que os indígenas nômades são os melhores, que constroem suas moradias de palha.


Imagem: Imagem: http://lecycpicorelli-arquitetura.blogspot.com.br/2009/03/casa-consciente-ecologica-e-auto.html

Então, o uso sem filtro de tecnologias exógenas em nosso modelo arquitetônico é que vem tornando o país mais endividado, excludente e antiecológico.

Brasília é o retrato vivo dessa ilusão de seguir às cegas o modelo europeu, branco ocidental.

O Brasil só vai deixar de ser subdesenvolvido quando parar de ter como parâmetro modelos exógenos, e passar a valorizar e por em prática os saberes tradicionais, usar nossos recursos de forma consciente, tirar das mãos de poucos o poder de decisão política e descentralizar a gestão, de forma participativa, devolvendo a cada um a responsabilidade por sua existência. E isso também passa pelo urbanismo.
Somos ainda subdesenvolvidos porque tomamos como parâmetro o outro, e não valorizamos o que temos de melhor.


Fontes:

http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAX9AAA/oscar-niemeyer-vida-obra
http://www.jblog.com.br/hojenahistoria.php?itemid=13397
http://www.sinduscondf.org.br/noticias.php?mat=601
http://carbonocatorze.blogspot.com.br/2008/04/haussmann-e-reforma-urbana-de-paris.html

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